domingo, 9 de outubro de 2011

MONTEIRO LOBATO NÃO CONHECEU PIÔ E MAROCA. MAS EU SIM, E AS AMEI E GUARDEI NO CORAÇÃO, COMO CENÁRIO ENCANTADO DE MINHA INFÂNCIA FELIZ, EM CEARÁ-MIRIM!

PIÔ E MAROCA EXISTIRAM. FIZERAM PARTE DO MEU UNIVERSO INFANTIL E FORAM AMADAS POR TODA A NOSSA FAMÍLIA! O VALE VERDE HÁ DE TER GUARDADO A PRESENÇA DESSA ILUSTRE DUPLA, CONTADORA DE ESTÓRIAS.

HÁ POUCOS DIAS VINHA DE CEARÁ-MIRIM COM PEDRO SIMÕES (QUE É UMA ENCICLOPÉDIA AMBULANTE) E FALEI NELAS. DE REPENTE ELE LEMBROU-SE E CONTOU TANTAS COIISAS BOAS QUE FEZ MEU CORAÇÃO CONTENTE. AFINAL, MENINO DE CEARÁ-MIRIM, ELE TAMBÉM CONHECEU PIÔ E MAROCA. FALANDO NISSO, QUANDO EU E3STAVA ESCREVENDO UMA PLAQUETE INTITULADA PALCOS DA INFÂNCIA, UMA NOITE FUI COMER UMA SALADA NO DOUCE FRANCE E LÁ ESTAVAM DIÓGENES DA CUNHA LIMA E VERINHA. EU FALAVA EM PIÔ E MAROCA QUANDO ELE ME INTERROMPEU PARA PEDIR: "MÊ DÊ, RM NOME DE DEUS, ME DÊ ESSAS DUAS CRIATURAS"...COM CERTEZA ELE JÁ TERIA PUBLICADO UM LIVRO SOBRE ELAS.

CREIO QUE O CÉU DEVE SER MAIS OU MENOS ASSIM:O HORIZONTE, A RELVA MACIA E PERFUMADA, AS PESSOAS SENTADINHAS CONFORTAVELMENTE, COMO PIÔ E MAROCA, CONTANDO ESTRELAS E ESTÓRIAS PARA OUTRAS CRIANÇAS.

CERTA VEZ MAROCA APARECEU NA CALÇADA DA NOSSA CASA UTILIZANDO-SE DE UMA BENGALA. AO VÊ-LA COMEÇEI A CHORAR, SENTIA MEDO DE PERDER,
JUNTO COM ELA, A BOA PARTE DO MEU MUNDO LOBATIANO. FOI QUANDO OUVI AS DOCES PALAVRAS: "APOIS NUM CHORE NÃO, MININA, ESSA BENGADA É MODE ME AJUDÁ A ANDÁ, OS OSSOS DA VÉIA TÃO FICANDO RIM DIMAIS,
TÔ VENDO A HORA... "
ELA NUNCA TERMINAVA UMA FRASE, DAVA UM LONGO SUSPIRO E LOGO FINGIA NÃO VER OU OUVIR MAIS NADA... E LÁ SAÍA A BOA MULHER, FRANZINDO O CENHO E FUNGANDO...
DUDA (IARA MARIA) E LUCAS (LÚCIA HELENA)
OLHOS DE UMA INFÂNCIA FELIZ!
Nilo Pereira, entre outras admiráveis legendas, deixou-nos sábios
pensamentos sobre a vida, a saudade, o amor, a infância! E ninguém,
até hoje (pelo menos para mim), descreveu melhor a infância, do
que o mestre Nilo. E tomo nas minhas, suas alvas mãos, reconduzindo-
me aos meus tempos de criança, quando ele diz:

"...reviver não é apenas recordar, mas, viver de novo! Como se de novo
fossemos meninos e tudo voltasse por um feitiço de algum deus oculto
e adormecido, que de repente acorda para fazer do homem adulto,
quase uma criança em busca do seu destino".


PIÔ E MAROCA

E seus cavalos de asas douradas; seus reinos cheios de ouro e prata; as varinhas de condão da fadinha "ESTELA"; os pássaros que viravam estátuas de mais de seis metros; os chinelinhos da linda princesa "SARA" e os colares de rubis da rainha "KÁTHIA", entre outros temas fantásticos, bordavam estrelas em meus olhos e a melodia dos pássaros em meus ouvidos, quando a dupla amada contava estórias improvisadas, fazendo-me suspirar e sonhar.

Nunca ninguém soube de onde surgiram essas duas senhora que moravam numa pequenina casa com telhado escuro (por causa do lodo nas telhas).
A casa delas ficava num beco da rua da então Biblioteca Municipal Dr. Pacheco Dantas. Todas as tarde elas estavam ficavam na calçada, com vestidinhos da mesma estamparia e modelo, sandálias de couro preto com arreatas, os chales no espaldar das cadeiras. Ali elas criavam um mundo inteiramente delas permitindo que entrássemos nele. Esse colóquio geralmente tinha início a partir das quinze
horas. Elas colocavam suas cadeiras e ficavam conversando, até que chegávamos Iara Maria (DUDA) e eu, e nos sentávamos ao chão para ouvirmos o desenrolar das mai incríveis estórias. Depois, nossas irmãs mais velhas chegavam, as boas velhinhas sorriam e diziam: "Cheguem, tem lugá pra todo mundo e as veinhas hoje tem istórias de sobra"...
Ouvíamos aquelas narrações tão inocentes (um mundo puro, impregnado de ingenuidade), depois, minhas irmãs iam ao pequeno quintal, onde havia um tanque d´água e lavavam a pouca louça que elas deixavam, desde o café da manhã, quando emborcavam as xicaras por pura preguiça de lavá-las.
Ainda hoje posso rever essas cenas movendo-se diante dos meus olhos.
A tarde passava célere. De repente, Piô e Maroca, em meio à narração de uma das suas estórias fechavam os olhos e fingiam dormir.
Em segundos ouvíamos o roncado fingido delas (Oh! Deus, quanto daria para ouvir e ver tudo isso...). E saíamos nas pontas dos pés... Mal nos afastávamos elas abriam os olhos e, bem ligiero entravam para a ceia - cujo cardápio geralmente era uma sopa que elas ingeriam, bem contentes, molhando com rodelinhas de pão.

O que será que lhes aconteceu? Para onde foram? Será que levaram com elas os cavalos de cristal? flores de algodão? Fumaça que virava desenho de aves no céu???

Ah! Se Monteiro Lobato tivesse conhecido essas duas senhoras, de olhos doces, cabelos grisalhos e vasto repertório de estórias! Certamente elas teriam sido personagens lobatianas, com toda a honra e glória.

No mês dos festejos ao dia da criança, dedico-me essa página de emoção e saudade. Dedico, à criança feliz de ontem, a saudade que hoje conta a história.

AMÉM!

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