sábado, 9 de junho de 2012

M E T A D E - OSWALDO MONTENEGRO.

M E T A D E
Oswaldo Montenegro



Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste,

e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também

sexta-feira, 8 de junho de 2012

BREVES POEMAS - LÚCIA HELENA PEREIRA

MEU LINDO HOMEM
Lúcia Helena Pereira


De pele dourada e olhar de chuva
Mãos tão belas, macias, grandes, quentes, amorosas!
Meu homem de 40, 60, 70, 80 anos?
Apenas um menino em minha alma
E minha ânsia de amar!



Homem de cheiro bom,
Cheiro de mato fresco, amanhecido,
Cheiro de almíscar...jogando bafos em mim,
Sem selvageria, mas, com mansidão e ternura,
Abrindo minhas entranhas e fazendo-me delirar!



Oh! Meu lindo homem!
Quero cheirar o teu cheiro,
Beijar teus olhos iluminados,
Cheirar teus lábios de amor
Segurar a tua mão de amor em minha mão
Fazê-la deslizar sobre meu ser
E me vestir do teu calor!



Meu lindo homem!!!
Apenas me amando...aquecendo-me,
Aconchegando-me em teu peito arfante,
Sussurrando palavras bonitas em meus ouvidos
E me amando de amor.



Homem lindo, todo lindo,
À luz de tantos símbolos voláteis,
Como dançarinos em passos de tangos argentinos,
Rodando em mim, dançando em mim!



Meu lindo e terno homem de sangue quente,
Bravo e terno, doce e amoroso,
Dormindo em meu abraço e despertando na aurora
Das flores que brilham tontas de luz,
Tecendo ramos em meu corpo
E no sorriso casto das pétalas rosadas desse teu sorriso -luz.



Meu lindo homem - eu te quero!

*******************************************************************




AS ROSAS DO AMOR
Lúcia Helena Pereira




Tento escrever um soneto
Da fonte opaca de minha solidão,
Onde as esperas banham-se no tormento
De uma infinita e dorida ilusão!



Minhas manhãs alvas e lânguidas
Penduram enfeites de ânsias e adormecidos sonhos,
Na paisagem sombria de alegrias magoadas
Desbotando-se em dias tristonhos!



Trago colheitas de esperanças frustradas
Na dourada luz de um castiçal de ardor
Acendendo estrelas torturadas!



Dá-me, amado, o húmus de tua alma,
Para que desabrochem em mim, as rosas do amor,
Na estação primaveril que me acalma!

**************************************************************

BRINCANDO COM AS PALAVRAS
Lúcia Helena Pereira

Quero brincar com as palavras dos seus versos úmidos
E escorregar numa gangorra de lírios e flores.
Brincar com todas as exclamações escravas
E rimas livres do recôncavo melhor de um poema!

Quero saltitar entre dunas de sonhos
E gigantes de realidades bem azuis.
Aterrissar num lindo arrebol, iluminado,
Sem poeira e sem saudades...

Quero brincar com a sinfonia dos seus versos
Numa nota bem alta, aguda, estridente...
De sensações loucas, alucinadas,
Vazando de minha essencial melodia.

Quero, apenas, simplesmente tocar
Em sua macia e inconsútil pluma de emoções.
Escrever uma palavra pequena e bordar
Em pena d´oiro, as flores dos teus versos.