"E O VERDE DO TIROL?
Públio José jornalista
(publiojose@gmail.com)
Se fizermos uma pesquisa sobre as origens do Tirol (falo do valorizado bairro da Zona Leste de Natal - também considerado Zona Sul) veremos que dele fazia parte o conjunto mais verde da cidade. De tão verde e aprazível se constituía que era utilizado pelas tradicionais famílias do pequeno aglomerado de então (aí por volta do início do século passado) como área de lazer, de descanso. Repleto de chácaras, granjas, até vacarias, o Tirol se viu desde cedo como um dos melhores locais de moradia de Natal. Também pudera! Do lado do poente, o verde exuberante do hoje denominado Parque das Dunas; mais à esquerda, o verde-azul do mar, consagrando, ao nascente, um majestoso abraço com o suave deslizar das águas do Rio Potengi; ao centro, uma geografia plana e rica da presença da Mata Atlântica, além do convívio com mangueiras, jabuticabeiras, mangabeiras, cajueiros, goiabeiras, sapotizeiros...
Festa da Natureza! Habitado desde cedo pelos mais abastados, com localização perfeita e solo adequado a altas edificações, o Tirol foi o prato cheio para os primeiros investidores. À medida que o progresso avançava, a excelência ambiental do Tirol lhe adicionava um alto preço: a ocupação de seus espaços - com o conseqüente desaparecimento de sua área verde. Àquele tempo não havia planejamento nem visão ambiental. E qualidade de vida ainda não estava associada a uma integração maior com a Natureza. Daí... O nome do bairro ser uma referência ao Tirol austríaco, região histórica da parte ocidental da Europa Central, cujos domínios alcançavam a Trento de hoje. O Tirol é famoso pelos seus castelos medievais, que remontam ao tempo do Sacro Império Romano -Germânico, por volta do século XIII. Como o Tirol austríaco, o daqui tinha seu charme ligado à excelência ambiental, à beleza primitiva.
Tinha. Comprovando uma gritante diferença de cultura ambiental entre os austríacos e nós (uma vez que os de lá continuam dignificando seu nome), o Tirol natalense é hoje um amontoado de edifícios residenciais e comerciais, empreendimentos que, ao longo do tempo, sugaram suas reservas vegetais e o transformaram numa geografia sem verde, sem praças – e sem logradouros onde a população possa usufruir um pouco de sossego, de paz. O remédio encontrado pela alta classe média, proprietária da maioria de seus edifícios, foi o construção de espaços internos, onde – enclausurada – faz de conta que convive com o verde. Nesse contexto, surge uma discussão – que já circula pela internet – sobre a intenção do governo do Estado de vender uma extensa e nobre área (onde hoje se situa o Estádio Juvenal Lamartine), para, com o dinheiro arrecadado, construir um hospital na Zona Norte.
Sem querer nominar a pretensão do governo de loucura, porém tachando-a de verdadeiro despropósito, vemos neste projeto um viés pobre, tosco - desprovido de bom senso e desfocado do ponto de vista ambiental. Ora, o terreno do Juvenal Lamartine é a única área verde ainda a ser preservada no Tirol! Seria, portanto, um desserviço de largas proporções ao meio ambiente a construção ali de mais espigões, além dos mais surgidos em área de propriedade pública. Os que gritam contra tal gesto o fazem na esperança de que dessa discussão sobrevenha um desfecho favorável à preservação do verde que ainda resta no bairro, fazendo do terreno do velho estádio um centro de convivência, de lazer, de prática de exercícios físicos, de cultura. Ouvindo o querer da comunidade, o governo faria o Tirol respirar um ar mais civilizado, além de devolver-lhe um pouco da perdida qualidade de vida".
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Obrigada, Públio, por me trazer de volta, em palavras, essa poesia vegetal que foi o bairro do Tirol, onde morei a partir dos seis anos de idade.
A minha rua - Av. Hermes da Fonseca, tinha um encanto especial: a grande pista construída pelos americanos na época da Guerra (quando batizaram Natal de "Trampolim da Vitória"). A pista diante de nossa casa, emendando-se com a Salgado Filho e a BR. Acima do juvenal Lamartine, o Farol de Mãe Luisa e o seu grande morro com franca vegetação. E diante de nossa casa, o arvoredo: pés de acássia, flamboyants, castanholeiras, até um pé de banana havia, plantado por mãos de poesia e onde fartos cachos douravam a paisagem. Nas árvores, os pássaros executavam as suas sinfonias...acordava com essa orquestra divinal!
Nossa casa, vizinha à de vovó Madalena (a sinhá-moça do Oiteiro), ficava no trecho da Hermes da Fonseca entre a rua Açu e a Jundiaí. Uma rua encantada por alguma mão feiticeira com sua prodigalidade.
Uma rua linda, cheia de charme, onde o cortejo fúnebre de minha avó (1959) e do meu pai (1969), tumultuou o pacato trânsito.
A minha rua era bem centralizada com dois importantes educandários: a Escola Doméstica e o Instituto Maria Auxiliadora (onde fiz o primário e ginasial) e onde os desfiles do Sete de Setembro, com as forças armadas, emocionava ao passar diante de nossa casa fazendo-nos sentir no ar patriótico, o grande sonho de um país melhor para todos.
Saudades do Tirol, querido Públio, saudades dos garrafeiros passando, do tilintar do vendedor de cavaco chinês, dos jornaleiros anunciando as matérias do dia.
Ah! Públio, saudades do terraço da casa de vovó Madalena e dos meus pais! Saudades dessas saudades que me inundam os olhos com rios luminosos, onde banho meus sentimentos em águas puras!
Muito obrigada por reacender essa chama que vive em mim: o saudosismo! Por isso admiro e quero bem a Nilo Pereira, Enélio Petrovich, Diógenes C.Lima, Pedrinho Simões, Valério Mesquita...que vestem - se de poesia para cantar suas saudades, como nós dois, sentinelas indormidas do tempo! L.Helena
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