quinta-feira, 7 de abril de 2011

A MINHA AVÓ MADALENA ANTUNES, MINHA PATRONA EM DUAS ACADEMIAS DE LETRAS. A SINHÁ-MOÇA DO OITEIRO!

ESCRITORA MARIA MADALENA ANTUNES PEREIRA
MADALENA ANTUNES - DÉCADA DE 30
MADALENA ANTUNES E EXEMPLARES DA PRIMEIRA E SEGUNDA EDIÇÃO DE "OITEIRO: MEMÓRIAS DE UMA SINHÁ-MOÇA" - 1958.
LÚCIA HELENA E A AVÓ MADALENA EM 1957

MARIA MADALENA ANTUNES PEREIRA
A Sinhá - Moça do Oiteiro.

DATA DE NASCIMENTO: 25-05-1880
LOCAL: Engenho Oiteiro, em Ceará - Mirim / RN

FILIAÇÃO: José Antunes de Oliveira e Joana Soares de Oliveira.

Ao se casar com Olympio Varela Pereira, passou a assinar-se Maria Madalena Antunes Pereira. O casal teve cinco filhos: Abel Antunes Pereira, Ruy Antunes Pereira, Vicente Inácio Pereira, Maria Antonieta Pereira Varella e Joana D´ Arc Pereira do Couto.

A partir de 1958, com a publicação do seu livro "Oiteiro: Memória de Uma Sinhá-Moça" ficou conhecida como a Sinhá-Moça do Oiteiro.

Madalena Antunes era uma criança alegre, virtuosa, cheia de amor pela família, pelos irmãos Juvenal Antunes de Oliveira (Promotor dejustiça e poeta), Etelvina Antunes de Lemos (poetisa) e Ezequiel Antunes de Oliveira (médico do exército).

Teve sempre o melhor carinho para com os “menores”, daí, o seu amor pelas filhas de escravos: Tonha e Patica, “crias da casa do coronel', às quais apegou - se, em correspondida afeição, além, da fidelidade estóica e comovente das jovens mucamas, companheiras diletas nos seus tempos de criança.

Casou-se com o industrial da cana - de - açúcar: Olympio Varela Pereira, alguns anos mais tarde saiu do engenho Oiteiro, com a família, para Natal, instalando-se na casa da Av. Hermes da Fonseca, 700, Tirol.

OS ESTUDOS

Madalena Antunes foi obrigada, pelo pai, devido ao seu atraso nos estudos, a ser aluna interna do Coégio São José do Recife. Estava na pé-adolescência e o livro Oiteiro bem retrata essa viagem e a estada da Sinhá-Moça nocolégio, à cata de melhor instrução. Assim, em 06 de junho de 1891, aos onze anos de idade, ela entrou para o Colégio de São José, em Recife/Pe

DO RECIFE PARA CEARÁ - MIRIM

Vivia pacatamente e com simplicidade. Escrevia seus manuscritos numa mesinha de jacarandá preta, sob o terraço da velha casa. Era sua manifestação do talento epistolar e sua enorme capacidade de fantasiar seus momentos de solidão, numa época de preconceitos ao papel da mulher na literatura e em outras atividades, quase que destinadas apenas ao homem.

MADALENA ANTUNES, desde jovem gostava de escrever e logo passou a colaborar num jornal artesanal, em Ceará-Mirim, assinando-se com os pseudônimos de Corália Floresta, Hostênsia e Ildarisa flores.

Madalena Antunes conviveu com intelectuais como Luis da Câmara Cascudo, Manoel Rodrigues de Melo, Esmeraldo Siqueira, Veríssimo de Melo, Nilo Pereira (sobrinho dileto) e outros. Foi quando descobriu a fórmula “mágica” para editar e lançar o seu livro, até então, organizado em manuscritas folhas de papel almaço.


O LANÇAMENTO DE OITEIRO

Era grande a ansiedade para o lançamento do livro de Madalena Antunes - um acontecimento raro!

Presenciei essas “cenas” por algum tempo, observando a empolgação dos intelectuais diante da perspectiva de uma norte - rio - grandense infiltrar-se no mundo literário. E desses nomes da nossa rica literatura, Madalena Antunes recebeu os melhores estímulos, até que, através de contatos de Câmara Cascudo e Nilo Pereira, com um escritor pernambucano, o rascunho do livro chegou à Editora Irmãos Pongetti - Rio de Janeiro - e o livro foi editado com o apoio da Casa Euclides da Cunha, Coleção Nísia Floresta, em 1958.


Eu tinha treze anos quando vovó Madalena terminou de escrever o seu livro. Lembro-me do meu sortilégio quando ela me entregou várias páginas para ler. Foi grande minha emoção ao receber esse material precioso.

Na contra - capa (ela fez uma capa artesanal com cartolina amarela) desse material ela escreveu:

“Largo é o sorriso que me acompanha e estreito o caminho daqueles que não compreendem as poesias da alma. Eu sou apenas uma mulher feliz, alguém que aprendeu a canalizar os sentimentos, sem se queixar diante dos embates da vida! Madalena Antunes!”


Com toda a movimentação para o lançamento do Oiteiro - Memórias de uma Sinhá-Moça Madalena foi surpreendida com a visita da senhora Maria Tereza, redatora - chefe da revista “DA MULHER PARA MULHER” (1958) que veio do Rio de Janeiro, para entrevistá-la.

E vovó não deixou por menos. Ofereceu-lhe um chá com vários convidados e um buffet bem próprio daquela época: chá, café, torradinhas, pão assado no leite de coco, baba - de - moça, arroz - doce, cartola (com açúcar e canela), biscoitinhos de polvilhos, bolo de batata, de ameixas e o bolinho da vovó - com cobertura açucarada (cortado em cubinhos e cobertos com uma ecaseira feita com açúcar, limão e um pouco de manteiga).

Abrindo a entrevista, Maria Tereza perguntou - lhe: “Como a senhora se sente ao publicar o seu primeiro livro, com tantas manifestações de carinho, notícias em jornais, intelectuais cercando - a intensivamente? E esse terraço, haverá um história”?

Seus olhos azuis brilharam e ela respondeu: “Saí de um vale encantado para a cidadezinha dos Reis Magos. Aqui, então, fui reunindo as minhas reminiscências e encontrando escritores que me incentivaram na árdua caminhada. Deixar o Oiteiro e a velha Ceará- Mirim, O Solar Antunes, para morar em Natal, deu-me algumas vantagens e os primeiros vislumbres intelectuais. Por outro lado, venho sentindo falta da minha paisagem de infância, da mansidão do vale, dos parentes e amigos que lá ficaram. Quanto ao terraço, nele está a fronteira do meu pequeno - grande mundo, a minha “ilha”, o meu refúgio, a mangueira frondosa e bela! Afinal, as árvores também saem dos seus lugares e dão sombras e frutos, e os pássaros pousam e cantam as suas lindas estrofes musicais! Sobre o meu livro, creio que a vida vai escrevendo a nossa história e o Oiteiro vai me levando de volta a um tempo ameno, cheio de poesia e beleza, ao meu “templo” de gratas recordações que vou deixando para as novas gerações.”


Continuando, a senhora Maria Tereza insistiu: “Então, somente as recordações e saudades do vale levaram - na a escrever um livro?”

Madalena Antunes sorriu e falou com doçura: “ Foram os encantamentos da infância que enriqueceram as minhas lembranças; o feitiço do Oiteiro com suas perfumadas auroras e os crepúsculos cheios de inspirações! O Oiteiro, o velho engenho com o oitizeiro à beira da estrada! Aquele pedaço de céu foi o palco iluminado das minhas recordações! A fonte perene dos meus sonhos de menina! Saiba, Maria Tereza, desde criança fui aprisionando no coração as minhas lembranças, o que não imaginava é que, um dia, elas seriam impressas nas páginas de um livro. Creio que isso foi seduzindo o meu espírito e me privando da solidão comum desses novos tempos, na cidade. Escrever, pelo menos para mim, é um belo exercício da alma, uma forma de suprir solidões e saudades. E no Oiteiro, ficou o grande oitizeiro, o qual devo bendizer: Oh! Velho oitizeiro, figura do passado, templo de minhas primeiras impressões! Quantas coisas recordas! Oh! Árvore do pomar da minha felicidade”! M.M.A.P.

Cascudinho (como Madalena Antunes o chamava), vibrava com toda aquela movimentação. Ficava rondando o jardim da casa da escritora, com seu charuto no bico, soltando baforadas pelo ar!

Em dado momento expressou-se em voz alta, como quem fala a si mesmo: " Inegavelmente Madá (Madalena) é a nossa Helena Morley do RN, que escreveu um livro preioso: "Minha Vida de Menina" e Madalena antunes nada fica devendo à mineirinha de Diamantina".

Em 1958, na Fundação José Augusto (antiga Escola de Jornalismo de Natal), Madalena Antunes autografou, em grande estilo, o seu livro OITEIRO: MEMÓRIAS DE UMA SINHÁ- MOÇA, reunindo crônica, romance, poesia, história e regionalismo. Um livro reeditado pela A.S. Livros na II Bienal Nacional do Livro em Natal -2002, no Centro de Convenções de Natal. Essa segunda edição saiu com um prefácio meu e foi e autografado no stand da Academia Feminina de Letras.

A partir desse ano, até quase junho de 1959 (um tempo curto de homenagens), Madalena Antunes viveu sob aplausos.

Sempre ministrei palestras em Natal e outras cidades, reabrindo esses caminhos e deixando os ouvintes encantados com a história de uma mulher extraordiária.

Em maio de 2001, no Palácio da Cultura de Natal, a Fundação José Augusto, através do seu presidente - jornalista e escritor Woden Madruga, com apoio do Governo do Estado do RN lançou a revista antológica: “MULHER POTIGUAR: CINCO SÉCULOS DE PRESENÇA”, onde, entre as 24 mulheres homenageadas, está Madalena Antunes.

E, com muita honra, o nome Madalena Antunes faz parte do grupo das 40 Patronas da Academia Feminina de Letras do RN (da qual sou membro), presidida por Zelma Bezerra Furtado de Medeiros, onde ocupo a cadeira número 08, tendo, como patrona - Madalena Antunes e cadeira n° 04 da Academia Cearamirinense de Letras e Artes - ACLA- sob a presidência do Dr. Pedro Simões Neto.

Madalena Antunes faz parte do acervo de mais de 400 mulheres pesquisadas por Zelma Bezerra, às quais, encontram-se em fotos e obras, no acervo do Memorial da Mulher Potiguar e integra o dicionário de Mulheres da Dra. Hilda Agnes Hübner Flores, a ser autografado em 02-05-2011, no Teatro Alberto Maranhão.

Não poderia deixar, neste momento, de dedicar -me as palavras deixadas por vovó Madalena, escritas em 23 de março de 1935, data do aniversário do meu pai: Abel Antunes Pereira

“ Natal, 23 de março de 1935:

Abel:

Meu querido filho, hoje, dia do seu aniversário, quero dar - lhe minha benção espiritual, como o melhor presente que poderia ofertar - lhe neste dia tão especial. Ela vai perfumada do olor daquelas rosas que você plantou, com tanto amor, no jardim do meu coração. Plantamos, nos jardins da vida, muitos balcões de plantas preciosas. Qual a mais bela? Não saberia dizer. Mas, você, meu filho, de quem jamais encontrei a pequena graminha comum, entre as rosas do amor filial, abençôo hoje orando por sua saúde e felicidade, pedindo que ao chegar a minha hora, você possa entrelaçar as minhas mãois frias, com as contas do meu rosário, no qual sempre oro por sua felicidade. Um beijo de sua Lhene (Madalena!)”. (Coincidência ou acaso...papai fez exatamente o que ela pediu)

Madalena Antunes, que nasceu no engenho Oiteiro, que morou no Solar Antunes (construído pelo seu - José Antunes de Oliveira), que passava férias na casa - grande do engenho Guaporé (construído na metade do séc. XIX (residência do Barão do Ceará - Mirim: Manoel Varela do Nascimento), que foi a primeira mulher na história do Rio Grande do Norte, a publicar um livro regionalista, aqui está, aclamada por mim, sua neta, com uma emoção diferente, aos 65 anos, com grande honra dilatando - se do coração para a alma!

Madalena Antunes é nome de Escola em Ceará - Mirim e tem sido alvo de tema fascinante de monografias e teses de alunos concluintes da UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, da UNP - Universidade Potiguar-, da UVA (Universidade Vale do Acaraú).E tem inspirado adolescentes em suas dissertações nas Escolas particulares e públicas de Natal / RN, além de palestras proferidas por mim, citações em livros, e outras histórias, para quem honrou sua terra, sua gente, sua pátria. AMÉM!

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Madalena Antunes faleceu em 11 de junho de 1959, saindo da casa da Hermes da Fonseca, carregada pelas asas dos anjos, para outras dimensões. Se fosse viva, teria, em 25-05 do corrente, 131 anos.

TRECHOS DO LIVRO DE VOVÓ MADALENA:

"O encanto dos jardins do Oiteiro resumia-se em sua profusão de flores, porque os canteiros não tinham estética. Eram orlados de fundos de garrafas e pedrinhas do sertão. As roseiras transbordavam de latas de querosene e os jasmineiros cresciam pujantes, beirando os velhos muros, gretados, da Casa Grande...


Os resedás - miosótis brancos - embalsamavam o ar, paralelos aos bogaris de folhas largas, delicadamente enrolados, quais brancos caracóis. As angélicas afloravam de varetas verdes, que se in clinavam salpicadas de estrelinhas brancas, como o cajado de São José.

E os lilases, que mereceram de D´Annunzio um poema?

Recordas-me, ó Oiteiro, e ele a minha infância, fonte perene na qual cada um procura, vez ou outra, nos momentos de desânimo, aquela paz benfazeja que a criança desperdiça, o homem ambiciona e os velhos recordam..."

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"No outono da vida, recordar a infância é abrir pontos de luz na estrada abandonada do passado.
Maio! Ainda hoje o contemplo, no milagre da imaginação, no pólen de suas flores, na renovação de suas messes, sentindo em tudo a poeira das desilusões, polvilhando a trilha do passado"...

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"Ó velho Oitizeiro! Figura do passado! Templo de minhas primeiras impressões! Tu que em criança me assombravas e hoje me inspiras respeito e saudade! Quantas coisas recordas, ó árvore do pomar de minha felicidade!
Tudo que abrigaste naquele tempo em tua dadivosa cúpula, já morreu, como já se extinguiram em mim o temor das supertições, a angústia dos mistérios e o prêmio da reprodução..."

4 comentários:

  1. Sarava!
    Otima publicação!
    Agora me informe mais,
    pois eu sou descendente de
    Joaquin Antunes de Oliveira,
    dos Antunes que vieram para Minas Gerais.
    Este se instalaram no norte e nordeste do
    estado de MG.
    Um dos patriarcas, Heitor Antunes de Oliveira,
    foi quem fundou a primeira Sinagoga do Brasil
    na região de Monte Azul, MG.
    Escrevi com o primo Edmundo Antunes de Almeida
    2 livros/estudos genealogicos sobre os
    Antunes de Oliveira.
    Organizei alguns encontros em Pedra Azul,
    Medina, Joaima e Jequitinhonha.
    No dia 4 de junho, durante "o 12° Show/Encontro
    Internacional dos Amigos de Heitor de Pedra Azul na França" faremos uma pequena reunião Antunes em Chablis, na Bourgogne/França.
    Vemos conversar.
    Abreijos
    Heitor

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  2. Queria muito achar esse livro pra comprar.

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  3. Por favor, reimprimam este livro Oitero. Há tempos busco por ele.

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