DILERCY ADLER VIRÁ DE SÃO LUIS DO MARANHÃO
AMARGA ROTINA
Dilercy Adler
A noite dormiu
a manhã acordou
como sempre acontece
o dia rolou como outro qualquer
em que a gente envelhece...
envelhece a pele
envelhecem os olhos
a saudade e a alma...
envelhece sem chama
com uma calma velada
que até aborrece
aborrece a chama
que brilhava na pele
crepitava no sexo
rolava na cama
e agora adormece
adormece calada
doce calma na alma
com os olhos cerrados
e a boca entreaberta
de quem não diz mais nada!
CORPO E PRISÃO
Sinto-me presa
em um corpo
que impõe
limites intransponíveis
que me impõe
papéis delineados
que inspira amores
que nem sempre quero
e me tira a possibilidade
de outros
que eu queria tanto!
sinto-me presa neste corpo
que nem sou capaz
de ver
sob todos os ângulos!
sinto-me numa prisão
neste corpo nunca perfeito
e mortal
quando o mais desejo
é transcendência total!
FALA DE POETA
A palavra do homem
habitat - corpo -
transita na boca
a boca que beija
o beijo que trai
a palavra do homem
habitat - corpo -
ferinamente fere
a mão que se estende
e não se fecha jamais
fala poeta por ti e por nós
a palavra de amor
por sob os lençóis
a palavra benigna
que não fere jamais
a palavra de vida
que leva a ferida
tantas chagas e dor
Fala poeta
palavras palavras
em rimas de amor!
PÊNDULO VIVO
Os meus sonhos no chão
quem não sonhou mil dias?
a minh´alma ensimesmada
quem não sorveu saudades?
meus projetos desfeitos
desleixamente estilhaçados
minha vida fragilmente suspensa
como um pêndulo oscila
entre a doce magia
da solitária espera
e a mágica orgia
do reconstruir do nada!
RITUAL
Ouço uivos de lobos - lamentos tristonhos -
trazidos pelo vento frio do inverno
colho orvalho - lágrimas do cosmos -
na noite enlutada
engulo luares - dos nostálgicos amantes -
bucolicamente solitários
rumino compulsivamente todas as saudades
que me fazem atua ausência
digiro tácita solidão num ritual sem trégua
à tua espera!
SENTIDOS
Me olha dessa maneira
que só os amantes sabem fazer
me enxerga fundo na alma
na intimidade maior de mim
me inala sentindo o cheiro
de amor no cio ao amanhecer
me sente voluptuosamente
com mãos devassas
qual a argamassa
nas mãos do artista
me sente inteiramente tua
na fantasia da poesia
que me inebria
por vir de ti!
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O evento é assinado pela promoteur Fafá Medeiros.
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