UM OLHAR MOLHADO DE ESTRELAS - LÚCIA HELENA PEREIRA

UM OLHAR MOLHADO DE ESTRELAS

Lúcia Helena Pereira

Era um olhar cheio de estrelas despertas

Brilhado num céu de azul opalina

A penetrar, lânguido, pelo fino tecido do céu.

Olhar de dentro onde só havia beleza,

E sorriso...sorriso de ansiedade...vaga-lume aceso

Embelezando-se nos cristais de luz da lua nova.

Eu vi um olhar cheio de sol

Bebendo o respingar de orvalhos mornos

Em plena madrugada andeira

Alevantada, sonolenta ainda,

Vestindo-se de verde e poesia.

Eu vi um olhar cheio de cor

De nunças mil, tremeluzentes,

Penduradas no grande candelabro do tempo

Onde orgias fizeram a ceia dos amantes

E beijaram-se...beijaram-se...beijaram-se

Eu vi um olhar cheio de fome

Assustado, incontrolavelmente assustado,

Mas o digníssimo senhorio fechou a porta

E aquele festim de horrores,

Deixou migalhas ao buffet dos pássaros.

Eu vi um olhar cheio de música

Na réstia da aurora parindo nas flores

Todas azuis...azuis...azuis...

Como que vestidas de anil!

Eu vi um olhar de prontidão,

Preparado para o golpe fatal da fusão entre a noite e o dia,

Fosforecente, dilatando-se de pupilas estranhas,

Preparando-se para a subida ao etéreo,

Num cortejo de pássaros debatendo-se febris,

Nas suas asas feridas da guilhotina do mal.

Eu vi um olhar cheio de estrelas,

Nas fotos de Gibson Machado,

Rolando em seu cosmorama mágico

Com tons amarelos, verdes e incrivelmente vermelhos,

Onde ele se situa, imagina e faz acontecer,

Pelas lentes de sua câmera feita só de luz!

Eu vi um olhar único, repleto de imagens,

Como que desfilando num vitral feito de tamanha beleza,

Com borboletas, pássaros, vegetações diversas,

Rios...rios...rios de alegrias diletas,

Na paisagem do Vale Verde alvissareiro,

Como lâmpada que acende flores e assanha as matas.

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Poemeto dedicado ao poeta Gibson Machado, que sabe tecer estrelas e preservar luar, num quarto - crescente do seu olhar de luz!