domingo, 29 de abril de 2012

O BLOG JOVEM GUARDA DE CEARÁ-MIRIM/RN - DIVULGA ENTREVISTA COM O CANTOR LENO AZEVEDO, ATRAVÉS DO SITE "MEMORIAL RAUL SEIXAS".

LENO AZEVEDO

O site MEMORIAL RAUL SEIXAS no início deste ano publicou entrevista com o cantor e compositor potiguar LENO, que foi grande destaque, ao lado da Lílian, na Jovem Guarda e ainda amigo de Raul Seixas. Confira:

Gileno Wanderley Azevedo, ou simplesmente Leno, foi um dos grandes nomes da Jovem Guarda, tanto na célebre dupla que formou com Lílian, quanto em sua bem-sucedida carreira solo. Conheceu Raul Seixas quando este ainda fazia parte dos Panteras e tornaram-se grandes amigos, praticamente irmãos. Raulzito considerava Leno como um de seus mestres.
MRS - Quando você conheceu Raul Seixas? Como foi esse primeiro contato?
Leno - Foi em um show da minha gravadora, a CBS, na Urca, no Rio, em 1968. Ele estava lá com "Os Panteras" para acompanhar o Jerry Adriani. Tinha acabado de chegar de Salvador e veio falar comigo pra dizer que meu compacto com A Pobreza estava em primeiro lugar lá. Achei uma atitude simpática. No dia seguinte já estávamos juntos tocando violão.

MRS - Como foi a gravação do álbum Vida e Obra de Johnny McCartney?
Leno - Caótica e "esfumaçada", gerada à cannabis, coisa nova pra nós. Estreei uma nova mesa de som no estúdio da CBS e foi possível extrair uma sonoridade que ninguém tinha no Brasil, até então.

MRS - Porque o álbum não pode ser lançado na época?
Leno - Metade das letras foram censuradas pela ditadura, e pra completar a CBS não achou comercial para um artista do seu cast que, como eu, vinha de dois grandes hits solo com canções românticas. Nada contra, eu também curto isso.

MRS - Vida e Obra de Johnny McCartney foi muito bem recebido pela crítica. É considerado inovador e contestador. A que você atribui esse sucesso?
Leno - Sinceramente, porque é bom mesmo. Pena que não saiu na época. Já estava lá quase tudo o que foi feito no rock nacional posteriormente. Inclusive nos discos de Raul. Fico orgulhoso que ele tenha deixado escrito que eu fui um dos seus mestres. Ele também foi pra mim, de várias formas.

MRS - Como era o processo de composição com Raul?
Leno - Geralmente um de nós tinha a ideia e pedia para o outro continuar. Como em Sentado no Arco-Íris, que fiz a música, comecei a letra e ele a definiu e terminou brilhantemente. Uma das censuradas em 1971, o rock mais pesado gravado no Brasil até então. Com A Bolha, a primeira letra que ele dizia ter tido orgulho de ter feito, conseguimos enrolar a censura e colocá-la no FIC do Maracananzinho via TV Globo. Foi a primeira participação de Raul naquele festival, e não Let Me Sing, como ainda pensam.

MRS - Há alguma estimativa de quantas músicas você chegou a compor com Raulzito?
Leno - Umas quinze, fora as que ele fez para mim gravar solo e na volta da dupla Leno e Lílian, em 1972.

MRS - Leno, o livro O Mago traz uma versão de como foi o primeiro encontro entre Raul Seixas e Paulo Coelho. Por que você contesta esta versão?
Leno - Porque é falsa e incompleta. Ele omite o fato de que eu estava no apartamento do Raul naquela noite no Jardim de Alá, aturando suas conversas sobre superioridade da magia sobre a ciência. Raul me chamou para ir lá por ter sido eu quem lhe emprestou dois dias antes um artigo sobre Ufologia, escrito por um tal Paulo Coelho. Sem isso ele não teria conhecido Raul. Curioso como era, Raul o procurou na redação, perto do estúdio da nossa gravadora no Rio e me convidou para nos encontrarmos, os três, naquela mesma noite. Só estávamos lá nós quatro: Edith (esposa de Raul), Paulo, Raul e eu. Não estava sua esposa como ele diz. E nessa noite Raul passou mais tempo ouvindo nossas diferenças de opinião do que participando delas. Ainda ficamos meia hora na calçada. Ele queria me convencer de qualquer maneira (risos). Impossível ele ter esquecido, a não ser que não lhe sirva de marketing ter seus "desígnios do Destino" mudado por um artista da Jovem Guarda, estilo que era patrulhado e discriminado pelos porra-loucas da época. Talvez a memória dos "guerreiros da luz" seja mais seletiva do que a dos meros mortais.

MRS - Há alguma música ou álbum de Raul, em especial, que você goste mais?
Leno - Dos álbuns Novo Aeon e o primeiro, Krig-ha, Bandolo! cujo repertório inteiro ele foi lá em casa me mostrar antes de gravar. Das músicas, até hoje canto Objeto Voador, só dele, feita a meu pedido e que ele regravaria anos depois com novo título (S.O.S.) e letra diferente em alguns trechos. O velho tema de vida extraterrestre. Mas no sentido científico e cada vez mais provável.

MRS - Você e Raul conviveram por quanto tempo? Apesar de serem muito amigos, por que houve um afastamento entre vocês?
Leno - Foi meu maior amigo companheiro e eu dele. Era um cara muito divertido e gostava de ajudar os outros como uma espécie de "terapeuta existencial" movido a bom humor, apesar de se dizer "egoísta". Na verdade éramos dois individualistas no sentido de que cada ser humano é único. Convivemos quase diariamente entre 1968 e 1972, quando eu estava com vários hits nas paradas após a separação da dupla Leno e Lílian. Fui o primeiro a gravar uma de suas composiçoes que lhe deu uma boa grana e ele era grato por isso, principalmente estando prestes a ser pai de sua primeira filha, Simone. Ele também tocava e cantava em minha banda nos meus shows no Rio. Estar em sua companhia era sempre alegre e estimulante, musical e intelectualmente. Já tinha tudo de bom do Raul Seixas posterior, mas sem o ranço autodestrutivo que suas futuras más companhias gostaram de estimular. Continuamos nos encontrando através dos anos mas sem a mesma frequência. Infelizmente ele não segurou a barra de um sucesso merecido. Estava muito diferente daquele Raulzito que aprendi a amar. E que deveria estar aqui conosco lúcido, saudável, cético e bem humorado. Como seus familiares e verdeiros amigos, e não os oportunistas de plantão, gostariam de vê-lo. Mas nos seus últimos anos morávamos em cidades diferentes. Sem contar o tempo que morei fora do Brasil.

MRS - E quais são seus novos projetos, Leno?
Leno - Estou lançando um DVD intitulado O Mundo Dá Muitas Voltas, nome de uma balada minha e de Raulzito, com uma retrospectiva de meu trabalho desde a Jovem Guarda até os dias de hoje, incluindo algumas letras inéditas que Raul havia me pedido para colocar música. Pedido cumprido, como em Quatro Paredes. E não é oportunismo, e sim a história da minha vida. Passei muito tempo calado ouvindo gente falando do que não sabe. Agora resolvi falar. Deve ser a idade... (risos).
Fonte: Site Memorial Raul Seixas

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