sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A CASA GRANDE DO ENGENHO GUAPORÉ, EM CEARÁ-MIRIM - POR GIBSON BARBOSA.

A CASA GRANDE DO ENGENHO GUAPORÉ
-GIBSON BARBOSA- A GRANDE MEMÓRIA DO VALE.

"A Casa Grande do Engenho Guaporé está localizada no alto de uma colina, em pleno vale do Ceará-Mirim, em um sítio que anteriormente tinha denominação de “Bonito”. Sua implantação é privilegiada, ficando em perfeita harmonia com a paisagem circundante.
O Dr. Vicente Inácio Pereira era proprietário do sítio Ilha Bela, que herdara do seu sogro, o Barão do Ceará-Mirim. Houve uma permuta de Ilha Bela pela propriedade “Bonito”, local onde o dr. Vicente Inácio edificou um engenho, ao qual deu a denominação de Guaporé, desaparecendo em conseqüência o primitivo topônimo (Bonito).

No engenho Guaporé, também foi edificado um casarão, na 2ª metade do século passado, para servir à família do Dr. Vicente Inácio, que era casado com d. Isabel Augusta Duarte Varela.
O Dr. Vicente Inácio Pereira nasceu no dia 3 de Maio de 1833, e faleceu em 22 de novembro de 1888. Foi o segundo norte-rio-grandense a se formar em Medicina, tendo sido também jornalista, além de deputado provincial e vice-presidente da província.
Como médico, o Dr. Vicente Inácio deixou uma valiosa contribuição científica: “Estudo do Cólera Morbus, sua Profilaxia e seu tratamento”, Impresso na tipografia “Dois Mundos”, em 1878.
No campo político, foi sempre leal ao seu partido, o liberal. Como senhor de engenho, nunca deixou o Vale do Ceará-Mirim, não foi seduzido pela grandes cidades, enraizou-se à sua terra e, ao lado de outros proprietários, inicio o ciclo-econômico do açúcar no Ceará-Mirim.
Segundo o escritor Nilo Pereira, neto do Dr. Vicente Inácio, “ele só deixou a sua casa pela assembléia ou pela presidência da província, mas era dali que trazia para a política e para a administração o senso de sua medida, o que lhe era possível fazer pelo Ceará-Mirim".

A Casa Grande do Engenho Guaporé é uma edificação típica de uma época afidalgada. Ela possui uma história não apenas econômica, mas também política. Ali estiveram destacadas figuras do segundo Reinado, dos partidos Liberais e Conservadores, e do clero. É, sem dúvida, um exemplo representativo da aristocracia rural do Vale do Ceará-Mirim.
Trata-se de uma edificação de relevante valor arquitetônico, de grande importância histórica. Construída no estilo neoclássico, apresenta partido de planta retangular, desenvolvida em um pavimento, notando-se ainda a presença de um sótão. Sua cobertura é feita em duas águas.
A casa apresenta uma fachada emoldurada por colunas e cimalha. Possui uma janela central de acesso, e seis outras janelas, todas em arcos plenos, com cercaduras de massa. As esquadrias são de venezianas, de madeira pintada e vidro, com bandeiras de vidro, dispostos em forma de rosácea.
A fachada ostenta ainda o esplendor do seu passado, com frontão triangular e platibanda ornada com guirlanda e rosáceas de massa.
O mobiliário da casa obedecia ao gosto francês, muito pertinente da época em que os ricos senhores de engenho costumavam mandar os filhos estudar na Europa, de onde traziam as mesmas idéias renovadoras.
O interior da casa não sofreu modificações significativas, conservado ainda o seu forro de madeira, piso de tijoleira no térreo e tabuado corrido no sótão.
Em 1979 a casa, que se encontrava em precário estado de conservação, foi restaurada pela Fundação José Augusto, sendo posteriormente tombada a nível estadual, em 16 de dezembro de 1988. Atualmente funciona no local um museu, sob a responsabilidade conjunta da Fundação José Augusto e Prefeitura Municipal de Ceará-Mirim.
A Casa Grande do Engenho Guaporé repousa em pleno Vale, conservando ainda a mesma feição de sua fabrica original, em um cenário que faz lembrar as velhas figuras que ali viveram, ou por ali passaram.
Nilo Pereira, um neto do Guaporé declara, em um lamento de saudade:
“... já não vale insistir na grandeza daquela velha casa, onde Vicente Inácio Pereira lutou para que a civilização da cana-de-açúcar fosse uma constante do progresso, economia e o mais poderoso fator da aristocracia rural. O melhor é deixá-la adormecida ao longe como um castelo de ilusões sobre o qual pairam invisíveis mãos de bondade e cavalheirismo. Essas mãos suspensas sobre seus destinos, revelando uma solidão de claustro. É o que resta de uma vida brilhante, que se apagou num enigma".

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