sexta-feira, 6 de maio de 2011

ELEGIA PARA O ESCRITOR NILO PEREIRA - BARÃO DO SOLAR GUAPORÉ, POR DORIAN GRAY CALDAS (16-11-2010).

"LÚCIA HELENA, MINHA PEREGRINA DAS NOITES DO VALE:

BASTAVA-ME A VISÃO DA CASA GRANDE DO ENGENHO GUAPORÉ, PARA ME SENTIR EM CASA. OLHAR AQUELE CENÁRIO TÃO NOSSO, A CASA IMPONENTE - COMO UM ARQUIVO SAGRADO GUARDANDO O PASSADO DOS NOSSOS ANCESTRAIS! A CASA ANTES TÃO BELA E BEM CUIDADA, OS JARDINS DE FRENTE ERAM LINDOS, MAMÃE CUIDOU DELES, ALGUMAS VEZES, COM TIA AUGUSTA. AGORA PARECE-ME UM MUNDO DESFEITO E ALGUMA VOZ LÁ DENTRO COMO A PEDIR SOCORRO. ONDE ESTARÃO TODOS ELES? E COMO ESSA CASA FICARÁ DEPOIS QUE EU INICIAR A MINHA OUTRA PEREGRINAÇÃO, MAIS ALÉM"? (MAIO DE 1985 -NP)
NILO PEREIRA)

ELEGIA PARA O ESCRITOR NILO PEREIRA -
BARÃO DO SOLAR DO GUAPORÉ
Dorian Gray Caldas (*)


Voltas ao Solar
Que habitavas menino.
Em cada palmo de chão
as linhas de tuas mãos.
A casa abre as janelas
aos verdes canaviais.
A palma verde da cana
Agitada pelo vento
sopra o azul longe / perto
distâncias no teu afeto.
A Casa agora
te recebe vazia
mas ascende na memória
os retratos, os marquesões
os anacrônicos segredos
na linha do parentesco.
Identifica a matéria
das porcelanas antigas
o relógio na parede
a hora parada
nos dois ponteiros abertos
como os braços de um espantalho.
Ah! Coletes de fina seda
paredes com papel china
louças de Sévres herdadas
gargântuas de mármore lavrado
ferros de flores bordados
na transparência das asas
das chamas da lamparina.
Ah! Tempo de pés descalços
massapê na chuva fina
vidraça quebrada no imprevisto
acerto do estilingüe.
Ah! Poeta de olhos atentos
na leitura dos vidros
das lentes do bifocal.
Como defender seus brasões
feitos de alfenim e de cal
e a heráldica argamassa
dos portais da Casa - Grande?
Nos retratos da parede
a leitura estremecida:
luvas, chapéus,
a flor no peito - vermelha
os mortos dentro do luto
os avós que se agitam
no sofá de antigamente.
E só a morte permite
a intimidade mais cúmplice
na distância do imprevisível.
Voltas à terra de origem
entre os verdes desiguais
abre as portas da frente
a dos seus campos gerais.
Barão do Guaporé
latifundiário da poesia
escritor de longo curso
resgatas
a tua origem.
A tua palavra profunda
separada do teu corpo
som da verdade da tua alma
reinventa o tempo perdido.

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Dorian Gray Caldas nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, em 16 de fevereiro de 1930. É artista plástico e ensaísta brasileiro.
Atuou como assessor da Secretaria Estadual da Cultura do Rio Grande do Norte (1967-1968) e da Fundação José Augusto (1974) e foi diretor do Teatro Alberto Maranhão (1967-1968).
Em 1989 publicou Artes Plásticas do Rio Grande do Norte 1920—1989.É imortal da Academa Norteriograndense de Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN e de outros órgãos congêneres.
Confeccionou e vendeu a sua arte em tapeçaria por vários estados brasileiros e países estrangeiros.

Orador de valor absoluto, tem ministrado conferências ao longo do tempo, bem como, exposições de artes plásticas incontáveis.
Dorian Gray que tem o condão de fazer amigos e cultivá-los.

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Abrindo gavetas encontro essa Elegia dedicada ao amigo de saudosa memória - Nilo Pereira - que tenho a honra de postar neste espaço de diversidades culturais.

Publicado em 16-11-2010 no meu blog www.outraseoutras.blogspot.com

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